quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Também eu estive lá...


Cap. 2

 

Mafra  06 de Julho/70

 

Despachado a Guia de Marcha, como era costume do Exército para qualquer itinerário a fazer pelos militares incorporados nas suas fileiras, lá aterrei no quartel do convento de Mafra, à altura, a servir de COM (Curso de Oficiais Milicianos). Por chegar fora de horas e à civil, o que terá surpreendido o soldado de serviço e de plantão à porta de armas que não me conheceu de lado algum, logo ele me questionou ao que vinha e logo lhe respondi ter sido colocado ali para o tirocínio do Curso de Oficiais Milicianos. Chamado o Oficial de Serviço, este pediu-me a identificação e, confirmado o meu nome numa extensa lista, mandou guiar-me até uma caserna, através de labirínticos corredores, onde já dormitavam uns tantos desconhecidos que, mais tarde, haveriam de ser os meus camaradas de armas. Cansado como vinha, quase me apetecia dependurar-me no cabide do armário mais próximo, com roupa e tudo, mas acabei por atirar o esqueleto para a enxerga do beliche mais à mão, só acordando ao toque da alvorada.

Para trás, havia ficado interrompido um ciclo de estudos e experimentava agora uma nova aventura, mista de voluntariado à força e de autoimposição, na procura de um novo rumo a dar aos meus 22 anos, idade em que todos os sonhos são possíveis.

Escusado será dizer que levei um par de dias para me situar na “avenida” da minha caserna – La Fayette, se bem recordo – pois os corredores do quartel, situado na ala sul do convento, eram de tal forma compridos e de inúmeras transversais acima e abaixo que, o mais das vezes, eu acabava por desaguar no sítio errado. Dizia-se até que o convento, com as suas 4.500 portas e janelas, tinha tanta ratazana nos seus alicerces que era ineficaz qualquer raticida, antes, os faria multiplicar indefinidamente, de modo que a cambada constituía uma tropa de elite à parte, com generais ancestrais tão gigantes que assustavam qualquer mortal!

De resto, a malta haveria de compartilhar ainda a caserna com outros comandos, já lá instalados, cujas comichões bateriam em número qualquer record para o Guiness !

 

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