Cap.
2
Mafra 06 de
Julho/70
Despachado a Guia de Marcha, como era costume do
Exército para qualquer itinerário a fazer pelos militares incorporados nas suas
fileiras, lá aterrei no quartel do convento de Mafra, à altura, a servir de COM
(Curso de Oficiais Milicianos). Por chegar fora de horas e à civil, o que terá
surpreendido o soldado de serviço e de plantão à porta de armas que não me
conheceu de lado algum, logo ele me questionou ao que vinha e logo lhe respondi
ter sido colocado ali para o tirocínio do Curso de Oficiais Milicianos. Chamado
o Oficial de Serviço, este pediu-me a identificação e, confirmado o meu nome
numa extensa lista, mandou guiar-me até uma caserna, através de labirínticos
corredores, onde já dormitavam uns tantos desconhecidos que, mais tarde,
haveriam de ser os meus camaradas de armas. Cansado como vinha, quase me
apetecia dependurar-me no cabide do armário mais próximo, com roupa e tudo, mas
acabei por atirar o esqueleto para a enxerga do beliche mais à mão, só
acordando ao toque da alvorada.
Para trás, havia ficado interrompido um ciclo de
estudos e experimentava agora uma nova aventura, mista de voluntariado à força
e de autoimposição, na procura de um novo rumo a dar aos meus 22 anos, idade em
que todos os sonhos são possíveis.
Escusado será dizer que levei um par de dias para me
situar na “avenida” da minha caserna – La Fayette, se bem recordo – pois os
corredores do quartel, situado na ala sul do convento, eram de tal forma
compridos e de inúmeras transversais acima e abaixo que, o mais das vezes, eu
acabava por desaguar no sítio errado. Dizia-se até que o convento, com as suas
4.500 portas e janelas, tinha tanta ratazana nos seus alicerces que era
ineficaz qualquer raticida, antes, os faria multiplicar indefinidamente, de
modo que a cambada constituía uma tropa de elite à parte, com generais
ancestrais tão gigantes que assustavam qualquer mortal!
De resto, a malta haveria de compartilhar ainda a
caserna com outros comandos, já lá instalados, cujas comichões bateriam em
número qualquer record para o Guiness !
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