quinta-feira, 31 de julho de 2008

Férias ...


Durante as próximas 4 semanas de Agosto, o administrador do blogue vai ausentar-se para um período curto de descanso. Como tal, também as "dicas" diárias vão sofrer da sua ausência.

Irá aproveitar para fazer umas reportagens no exterior- inclusivé, vai falar com o papa por causa da nossa situação!- e quando chegar à "Redacção" trará mais umas "quentes e boas" ...

Promete também algumas novidades como, muito possivelmente, publicar em livro ou foto-montagem alguns dos sketchs aqui publicados, se houver leitores par o efeito. Sobre o assunto aceita sugestões.

Aproveita para desejar a todos os seus camaradas umas óptimas férias.


Lino Rei

Crianças



RAÍZES

6. A escola


Debatiam-se, no Conselho de Turma, os prós e contras para transitar o “Bravo” – nome de guerra por que era conhecido na escola o Barbosa. O seu cardápio escolar, mais longo que o último episódio de novela TV, em participações de todo o género, primava pela falta de educação e expulsões várias. A perspectiva de avaliação final de ano apontava para as já esperadas oito negas, não fora a complacência de um ou outro professor que destoou do grupo, pela atribuição da positiva mínima.
A alcunha viera-lhe do apelido que ele teimava em escrever Bravosa pois a sua configuração física destoava do normal da turma de dez e onze anos e onde, como em camisa de sete varas, o obrigaram a ter de fazer parte. Protagonizaria, por tal motivo, cabeça de cartaz, em decisões de litígio de recreio, já para não falar dentro da sala de aula que constituía o teste supremo, para qualquer professor que, a ser ultrapassado, poderia candidatar-se à santidade dos altares, tal a paciência exigida para com o sobredotado.
Nos seus 16 anos bem maduros, as capacidades cognitivas do “Bravo” mostraram-se pouco acima do limiar zero do Q.I.. O Conselho continuava com o dilema, temendo que mais um chumbo conduziria este “iluminado” ao abandono escolar. Um colega sugeriu que o transitassem pois enquanto permanecesse na escola não faria razia lá fora; razões extra, de pais separados e alcoólicos e a proximidade ao tabaco e à droga, vieram à baila e a tripla retenção acabaria por corromper a próxima turma onde recaísse. O Conselho concordou com a sua passagem, ao abrigo do tal artigo, avolumando cada vez mais a santa ignorância deste país.
Mas o caso não se ficou por aí, pois, logo mais, em nova reunião de um outro Conselho de Turma, um encarregado de educação não se convenceu de todo com os argumentos deste órgão da escola, idealizando para o seu educando um projecto de engenheiro, pois teimava que o filho haveria de sair doutor! A Ordem deliberara que o pequeno “Eiffel” tinha ainda muito tempo para rever os cálculos dos alicerces para as futuras pontes, pois as actuais caíram por terra, tal a ferrugem por tanta ignorância acumulada. E o assunto ficou definitivamente encerrado.
Alex reviu os seus tempos de escola primária onde, sem tantas reuniões, as coisas funcionavam no sentido de, no mínimo, saber-se ler e escrever e quem nãe era competente ficava de molho até o poder fazer. To be or not to be, passar ou não passar de ano era um ponto de honra a defender pois a “raposa” era um estigma duro de suportar; o insucesso andava associado, não à falta de inteligência da criança mas à fuga da escolaridade, por ter de ajudar-se a família ao provento do dia a dia.
Recordou então os “Passarinhos”, os “Gatinhos” e os “Morrosóis” que coitados, mal se resguardavam daqueles frios invernosos, em farrapos e andrajos de ocasião que fingiam proteger corpos magricelas de geração de crianças grandes. Por isso, o pó das carteiras ia-se avolumando com as suas ausências, requisitados ao mar, em catraias de cascas de nozes que não era suposto arribarem ao cais cada manhã. Outras vezes, ainda ensonados da faina marítima, anestesiada a fome com o naco de pão bolorento e a tigela de caldo de couve e massa esbranquiçada, tentavam afinar à tabuada, enquanto endireitavam a caligrafia pelas linhas do caderno ou (des) convertiam metros a centímetros, sob a ameaça da palmatória do professor fazer os respectivos acertos nas suas já calejadas mãos.
Naquele tempo, a cana comprida do mestre sibilava-lhes ao redor das cabeças fazendo-os acordar para as regras de comportamento, para os cursos dos rios e linhas-férreas a decorar. Ai que se queixassem em casa pois ainda tinham dose a dobrar! A escola ensinara-lhe certos valores, como a amizade, a solidariedade e o respeito quase sacrossanto pelos pais e professores.
Vieram-lhe à memória aquelas Quartas Feiras em que a sala de aula virava tribunal e em que a “Santa Catarina” transformava as suas mãos em tachos de estrelar ovos e nem cabelo de cavalo com azeite ajudava a tornear a dor, enquanto grossas lágrimas escorriam pelos "crimes" cometidos: quatro erros no ditado, por confusão dos ésses dos botões cosidos com os zês das fanecas cozidas; dois problemas errados, na aritmética, por se ter roubado mais ao quilo do algodão que ao litro do vinho tinto. Se era na História, cometera-se o sacrilégio de alterar a cartilha, confundindo-se o rei Gordo, D. Afonso II, a plantar o pinhal de Leiria enquanto D. Dinis, O Lavrador, distribuía mais umas sacholadas valentes no costado dos mouros, ganhando para Portugal a quinquagésima batalha desde O Conquistador. A coisa ficava ainda mais feia na Geografia do reino, quando alguém desviava o Cávado do seu leito para o desaguar ali para os lados do Forte de Viana, com comentários críticos do professor quase a merecerem prisão no dito cujo. E que dizer então das linhas férreas onde a ignorância da petizada fazia até descarrilar comboios pelo desvio das agulhas ou, quando aquele mais sabido direccionava a Linha do Norte para um apeadeiro desterrado na fronteira de Espanha, pondo em perigo até a unidade nacional!?
No tribunal das Quartas Feiras, uns tantos sujeitavam-se à dose suplementar da palmatória, por riscos nas carteiras, salpicos de tinta permanente no soalho, estilhaços de vidros da sala com a bola de farrapos ou bexiga de boi de matadouro, confrontos físicos com colegas, surripianços de ardósias dos vizinhos de carteira, entre outros "crimes"!
Nessas ocasiões, a professora também lhe ensinara, no Canto Coral, o Hino Nacional, o Não vás ao mar Tonho, as Pombinhas da Catrina e tantas outras canções que eram disputadas em altura tímbrica com os mais velhos já conhecedores de todo o reportório coral, por repetências acumuladas. Ninguém estranharia sequer as mudanças de vozes de alguns “Pavarotis”, do garnizé ao galináceo mais apurado, camuflados atrás do coro, que de boca aberta fingiam-se aos barítonos e baixos. Havia ainda quem as fizesse pela calada, em incursões aos bolsos dos calções, disputando uma e outra perisca, apanhada no passeio e a ser fumada na retrete da escola, no intervalo seguinte. Se a dita cuja não chegava para todos, dividia-se irmãmente o prazer e assim enquanto os mais velhos fumavam os “charros”, os demais iam treinando com cigarros de barba de milho!

E foram e são estes agora os doutorados para a vida.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fachion/72. Os 7 magníficos ...


Era um habitué no Palácio de Desportos de Songo-city fazer-se, anualmente, um desfile internacional com os maiores estilistas e manequins mundiais, sendo convidados de honra as patentes civis e militares da zona.

Para a posteridade, aqui fica um recuerdo de alguns modelos dessa famosa colecção Primavera-Verão, ainda nos bastidores.

Como se verifica, a moda da altura era a calça justa pelo claro ou escuro com sapato de "crocodilo" preto em biqueira a condizer. As t/schirt eram mais para o descontraído dando-se a primazia às cores pastel, axadrezadas ou matizadas, estilo nipónico (manequim do whisky) ou de tecido mais esponjoso de alga marítima que trazia uma frescura ímpar (modelo de cócoras).

O júri acabaria por premiar ex-aequo estes 7 magníficos que representaram brilhantemente a Escola estilista-militarista da Ônzima. Seriam premiados com uma magnífica viagem ao Puto depois das "formalidades" legais.


terça-feira, 29 de julho de 2008

Festival internacional de Danças de salão...


"No deslumbrante salão de baile do Palácio de Songo-city decorreu o Xº Concurso Dançante que reuniu pares e grupos de dançarinos "internacionais" provindos de todas as partes do globo.

Após uma pré selecção dos concursantes, quer em pares quer em mini-grupos, os prémios e troféus a atribuir estavam à altura da perícia e profissionalismo dos seus finalistas.

Estes, para além de mostrarem os seus dotes exibicionais nos vários estilos de dança (Rumba,Valsa, Salsa,Chá chá chá,Tango, Slow, Bossa Nova, Samba...) tiveram um teste final- maratona onde, durante 8 horas seguidas, dançaram o Merengue ... sem sair do sítio!...

Na foto, o grupos finalista, composto por dois pares, exibindo-se com o famoso Bailinho da Madeira. Note-se na versatilidade e exuberância dos seus dançarinos que lhes valeu o Troféu Mereng's Dancing/72 e o prémio monetário de 2000 Palancas!".


In Jornal Palanca do Uíge.


P.S. O par masculino da foto foi convidado pela organização a "demorar-se" mais um ano para estar à frente de "um salão de baile" militar naquela cidade.


segunda-feira, 28 de julho de 2008

Cena do filme "Os 4 mosquiteiros"...


Este "filme" rodado inteiramente na Madeira, durante 6 meses consecutivos, foi premiado no Festival de Veneza com 3 Leões de ouro!

Os prémios atribuídos contemplaram o melhor guarda-roupa (fato-macaco,

kiko, cantil, botas de lona verde-azeitona e de cabedal e cama-beliche de ferro blindado), melhores acessórios (G3, metralhadora HK checa, cartucheiras, dilagramas e granadas ofensivas) e ainda o melhor quarteto de actores de origem ucraniana-LeitãoKov,Coelhev,Nunesvsky e ReiKiriaKov.

O filme retrata, fielmente, a instrução de mais de uma centena de "actores-recrutas"que se estavam a preparar para uma guerra fictícia, algures no Norte de Angola.

No sketh, um dos vice-comandantes ri a bandeiras despregadas enquanto os restantes mosquiteiros atentam, através do gravador instalado, nas escutas gravadas pela DGS (futura ASAE) e referentes ao posicionamento do IN "emboscado" algures numa numa das discotecas do Funchal.

A estratégia montada passaria por um "golpe de mão", às tantas da madrugada, ao local em causa.

Resultado da operação: apreensão de 20 garrafas de gás mostarda dissolvido em garrafas de whisky e "prisão domiciliária" no BI 19 de duas "agentes secretas" IN disfarçadas de bailarinas ...

Mais tarde e já no palco das operações o mosquiteiro Coelhev seria distinguido com um Louvor pelo C-C.F.A.A.

domingo, 27 de julho de 2008

Disputando a(s) dama(s)...


Numa dessas de far niente (lazer) havia tempo para outros "ataques" (?).

No hall das "instalações hoteleiras" de Quivuenga-city, o seu conjunto arquitectónico misturava-se em estilos diferentes onde o moderno dava também lugar ao antigo mas que se enquadrava magnificamente no look do seu todo.

Repare-se no candeeiro a petróleo e no petromax que se alternavam aos 25 watts da lâmpada suspensa quando estes deixavam de "dar à luz", a partir das 21 da noite; ou nos ricos sofás-poltronas revestidos a pele de pacaça e pau preto ...

Quanto às forças militares em presença, entretinham-se com baladas de adormecer (Rei à viola), a ler-se o último romance de Manuel Alegre (Leite) ou a disputar a "dama" no tabuleiro (Lopes e Carvalho). O outro "praça" deste "combate" estaria a contar as notas-palancas que lhe sobrariam para enviar os tais dois terços para o Puto...

E assim decorria esta nossa "Guerra e Paz"...

sábado, 26 de julho de 2008

Aniversário da ÔNZIMA


"A C.C. 3411 ÔNZMA, comemorou o seu 2º aniversário de destacamento, em terras do Songo, distrito do Uíge.

Após as cerimónias oficiais de boas vindas às entidades civis e para-militares da vila, nas instalações militares do aquartelamento, em que estiveram também presentes o comandante e vice-comandante do Batalhão de Carmona e respectivos familiares, assistiu-se, da parte da manhã, a uma missa campal, na presença de todos os militares, recordando-se com saudade o soldado Junior e o furriel Basso que ainda recentemente deram a sua vida pela Pátria.

A confraternização continuou ao almoço trocando-se cumprimentos efusivos entre todos e com desejos de um breve regresso ao Continente."


Jornal da caserna Frente-marche

Agosto/72

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Gaivotas do rio


Raízes

5. A inundação

No torreão do Salva-Vidas, o saco preto obedecia a uma sinalética para os pescadores. Se este se apresentava de pernas para o ar, significava que o vento soprava de sudoeste. Se aparecia uma bola preta, este soprava de Oeste. Na ocasião, era prenunciadora de mar alto e mau tempo, com a barra fechada à navegação.
Nesse dia invernoso de Fevereiro, a chuva fustigou por demais a orla marítima. Madrugada dentro, coriscos e trovões abanavam as ténues casitas da Ribeira. Durante toda aquela santa noite, Alex não conseguiu pregar olho e enrolou-se, cheio de medo, por entre os míseros cobertores que cobriam ainda a nudez dos pais.
- Minha Nossa Sra. da Bonança – ouviu rezar a mãe – fazei-de abrandar a tempestade!...
O pai, acordado e sobressaltado pelo último relâmpago da borrasca, acendeu o velho candeeiro a petróleo, na cabeceira da cama, logo espalhando sombras fantasmagóricas pelo teto fora e exalando um cheiro familiar, anestesiando, de imediato, meia dúzia de pulgas, nos já rasgados lençóis. Foi-se dar uma olhadela pela janela do mirante e torceu o nariz, pois a tempestade estava brava, fustigando as vidraças, aqui e ali já meias alanhadas e tapadas a betume. Duas pingas teimosas tinham já furado o soco de madeira e escorriam soalho fora.
- Vou lá abaixo buscar um alguidar para aparar esta água – rosnou para a mulher.
- Vai, mas anda depressa que eu até tenho medo. Que farão esses desgraçados dos pescadores por esse mar adentro!? Ouve lá, a campanha do tio Tuta não saiu para as rascas?
- Não sei mulher, com este mar de Cristo quem é que se atreve a sair da barra? Vou descer para remediar isto. A propósito, não tens umas rodilhas para enxogar a água?
- Estão ao pé do cântaro, ao lado da máquina de petróleo.
Para não ficar com a casa às escuras, por medo do rapaz, o pai tentou acender o toco de vela de estearina da Sagrada Família, que, com a humidade dos fósforos, teimava em não dar-se à luz, sendo preciso recurso ao isqueiro de pederneira. Desceu as escadas com o candeeiro, em ceroulas de flanela, para o ofício em mãos. Quando chegou ao pé da porta, ficou atónito com o que vira:
- Mulher – berrou – anda cá abaixo depressa que a casa está toda inundada! Traz-me aí as botas de água que isto mais parece um rio!...
A cozinha tinha já uns bons 20 centímetros água acima, pela maré viva do rio, a que se juntara também o lodaçal da chuva. Duas ratazanas assustadas tentavam nadar para porto seguro pois os buracos apodrecidos do rodapé já não inspiravam grande confiança. A velha gata Tirone saltara para a mesa de jantar, e de pelo eriçado, temendo talvez pela sua sétima e última vida, arremessara, borda fora, os garfos tridentes de ferro, acabadinhos de brilhar e esfregados a cinza de véspera, e as colheres de alumínio, do presigo do jantar.
Um cheiro a maresia invadiu o corredor enquanto o penico do quarto boiava de um lado para o outro como que imitando o Titanic em naufrágio. Pelas frinchas da porta da frente, a corrente ameaçava invadir cada vez mais o resto da casa, não foram umas rodilhas e farrapo de cuecas velhas fazerem tampão, minimizando os estragos. A mãe, em camisa de noite, acorrera e perante o cenário, faltou-lhe a respiração e quase desmaiara.
Rua fora, ouviam-se pedidos lancinantes de socorro, enquanto rafeiros assustados pareciam periscópios, tentando emergir à tona da maré. Mais além, porcos, gatos, galinhas e coelhos de criação boiavam à deriva, já mortos.
Para os lados da capela de S. João, os juncos não resistiam à fúria das águas e vergastavam de tal forma as costas ao santo que o coitado bem que lhe apeteceu voltar de novo ao deserto, a comer gafanhotos e mel silvestre!
Entre portas, recitavam-se ladainhas a todos os santos e mais alguns; esgotadas estas, rezavam-se rosários completos à Senhora da Saúde e dos Navegantes, cheios de convicção e fé religiosa. Também o Senhor dos Aflitos não escapou a tanta invocação e poderia estar certo que não lhe haveriam de faltar mais velas na sua capelita, ali para os Bombeiros velhos, por tanta promessa feita nessa noite. Até os Romões invocaram a Bíblia, no Noé da família, para fazer descer as águas!
Qual quê?
Nas 7 casas dos pobres de S. Vicente de Paula, a situação era desoladora:
- Valha-nos o Senhor dos Aflitos, lá boiaram os tabuleiros das linhas da faneca e o espinhel do congro do meu hóme – gritava a Maranhona.
Ao lado, os Quintinos assistiam ao último milagre dos seus Santos Antónios de granito pois estes ainda resistiam ao dilúvio e, mesmo com água pelo pescoço, permaneciam de pé e inquebrantáveis na sua fé. Valera-lhes, talvez, terem pregado aos peixinhos!
Mais aflita, chorava a Mariquinhas:
- Ai, minha mãezinha, quem nos acode que a maré está-me a levar tudo de casa. Lá se foi o meu porquinho!
- Meu rico Sãojoanzinho, valei-nos nesta aflição – implorava a do Airinhos – afogaram-se as minhas ricas galinhinhas!...
Uns vaticinavam até que se estava no fim do mundo. Mais em surdina, alguém invocava as bruxas ainda vivas – as mortas quiseram lá saber! - E afiançava-se até que por ali passara procissão de defuntos!
Vade rectro!
A tempestade não parava.
Horas depois, lá chegaram os Bombeiros que pouco mais puderam fazer que acudir aos vizinhos mais necessitados e arredar o lodo e o lixo das ombreiras das portas. Tentaram, em vão, desobstruir os aquedutos e caleiros entupidos mas a corrente dificultava-lhes a missão. A escuridão era total por falta da lâmpada fundida do único poste que, de tão inclinado, ameaçava também abater-se. Os faróis do carro de socorro varriam, noite fora, outros fantasmas, nos xailes pretos do mulherio da vizinhança que passou toda a santa noite desperta, tal o medo por algum desastre maior.
- Sta. Bárbara (…) R/ Ora pro nobis – prosseguia ainda a ladainha numa das casas, frente aos quadros dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.
No dia seguinte, foi o contabilizar dos prejuízos, avolumando ainda mais a miséria desta gente.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Concerto para cravo e solista ...


Ora cá está como a malta também tinha momentos de descontração ...

No caso, este magnífico duo tinha sido convidado para dar mais um "concerto" em casa de um dos muitos fazendeiros da região cujas filhas também "tocavam piano e sabiam Francês".

No recital apresentado, o duo executou a peça "Um whisky para dois". Note-se na extrema concentração do cravista enquanto o "cantor" se preparava para "atacar" de novo o seu "instrumento".

Claro está que tivemos uma ovação das pesadas...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Euros e euros...


RAÍZES


4. CALIBRE 48

A guerra do Iraque já fez mais de um milhar de mortos entre os soldados norte-americanos e da coligação, desde que foi derrubado o então poder instituído do governo de Sadan Hussein, e, proclamada a tomada de posse por parte da coligação (…) a guerrilha, continua activa, após a passagem do poder para o novo governo instituído. A paz parece ser cada vez mais difícil de instalar-se, recorrendo agora a guerrilha a outras formas de destabilização, com raptos à mistura e a exigir dos países envolvidos a retirada das suas tropas (…), ouviu-se na SIC.
Atento ao desenrolar das últimas, o amigo Heitor aproveitou para deitar conversa:
- Eh, pá, já viste isto? Está pior que no nosso tempo. Estes cabrões mereciam era que lhes fizessem o mesmo “Olho por olho, dente por dente”.
- Se isto fosse por cá não sei o que seria – adiantou o Rogério.
- Dizem que nem temos submarinos! E quanto a helicópteros eles são tantos que nem apagam os “fogos” do Parlamento, que fará a torreira que vai por esse Portugal fora - interveio Alex.
- É mesmo, Portugal está arder de lés a lés e os políticos não há meio de darem a cara – insistiu Heitor – está tudo de vacanças.
- Alguém toma um cafezinho? - Perguntou a dona da casa.
- Boa ideia – anuiu o marido –, já agora, trás aí uns whiskys para acompanhar.
- Eh, malta, o raio desta guerra faz-me lembrar as nossas de putos, lá na Ribeira.
- Conta aí - espicaçou o Rogério.
(…)
A atmosfera amistosa da visita dos conterrâneos provocou o desfiar de recordações que se prolongariam pela noite dentro. Naquela viagem ao passado, não tão longínquo quanto isso, fez-se a ponte com os dias ora vivenciados e cada vez mais cheios de incertezas. A propósito dos bancos da escola, teceram-se alguns considerandos.
As batalhas vitoriosas dos nossos reis faziam da nossa História o povo mais intrépido de que há memória. Eram decoradas com fé quase maometana e em precisão de datas e nomes, sendo assunto obrigatório nos exames da quarta classe, perante um tribunal de professores que nos passava ou enfiava a raposa se nos desviássemos daquelas verdades absolutas como paradigmas a imitar. Ainda que tinham alguma complacência com os problemas da Matemática, agora com a nossa História não brincavam em serviço!
Tais feitos mirabolantes, contados pelos cronistas da época e inflacionados pelos copistas de el-rei, tornaram-se como fixações doentias, narrando, pelas quatro dinastias dentro, batalhas hercúleas tão arrojadas como Aljubarrotas e Atoleiros que ainda hoje permanecem como vestígios e recordações onde um qualquer arqueólogo pode verificar, através da sedimentação dos despojos, a que correspondeu tão avançada táctica militar!
A cartilha narrava apenas dois ou três desastres nacionais, entre os quais, Alfarrobeira – talvez pelos nossos guerreiros andarem de disenteria por tanta alfarroba enfardada! – E afiançava mesmo que o desastre de Alcácer-Quibir fora mais devido ao nevoeiro da ocasião que à valentia da mourisca, que logrou dar cabo da estratégia da quadratura do quadrado, na formação dos lanceiros d’O Desejado, quando as cavalgaduras inimigas lhes terão caído em cima. Valeu a D. Sebastião se ter “evaporado” a tempo e, reza a crónica, que a sua alma veio pairar até Esposende, em estátua petrificada, erguida pelos seus devotos crentes, e quase elevado à honra dos altares, tal a sua semelhança com o seu homónimo, mártir romano, ali na matriz:
- Ai, meu rico S. Sebastiãozinho – rezava a tia Micas, virada para as nuvens de bronze que aureolam o jovem rei – fazei-de-me que o meu rico Tóne volte a salvo do mar de Cristo – enquanto desfiava um rosário de Ave Marias, Padre Nossos e Améns…
Era a cobrança de uma dívida mais que merecida pois El-rei, em 1572, dera-lhe Carta de Provisão, libertando o lugarejo de 370 moradores da tutela de Barcelos.
Tais façanhas viriam a ser recreadas pela canalha da vila, virando lutas e jogos de rua onde o inimigo-amourado era rebaptizado: os do Norte, os do Sul, do Jardim, do Grémio, os da Lagoa, os da Central, cada um destes reclamando para si o estatuto de exército português.
- Eh, malta, lembrais-vos das nossas espadas, feitas de paus, a imitar os lanceiros gregos? – Recordou o Rogério, que era do Norte.
- Isso não era nada. A nossa “artilharia pesada”, armada de calhaus e godos do rio, à primeira investida, decepava logo as vossas couraças! – Gozou de novo o Rogério.
- E a nossa “infantaria ligeira”, de lanças aguçadas de vassoura velha, nas “motas” com rodas de madeira, feitas pelos presos da cadeia, a cinco tostões!?
- Olha aí! – entrou na conversa Alex – eu cheguei a ir armado de Robin Wood, arco e flechas, restos de varetas de guarda-chuvas. Para azar meu, despachei até para o hospital o “Trinca espinhas”, e o desgraçado teve de levar injecção contra o tétano, que eu cismava e afiançava que era contra o teto! …
- E aquele estratega militar, lá do sul, que devia imitar tudo dos filmes dos romanos!? Levava a coisa tão a peito que nas primeiras linhas da refrega os seus guerreiros vinham todos armados de couraças circulares feitas das tampas de bidões … - ria-se o Miguel.
- Aquilo é que eram guerras! – Concordou o Zé. Numa destas fizemos alguns prisioneiros mas a brincadeira ficou-nos cara pois os familiares deram-nos cá uma sova do caraças!
(…)
- Ouvi aqui – interrompeu o Gigas, lendo a Bola do dia – aqueles espanhóis dum canastro deram outra vez “baile” ao Porto, no hóquei. Não há meio de quebrar o enguiço.
- A propósito – adiantou o Heitor – e os nossos sticks de tronco de couves que faziam mais “galos” nas canetas do adversário que golos nas balizas...
- … e estas eram a calhaus e encurtadas, à surrapa, sempre que a bola se aproximava …
- E quando a malta ia jogar futebol contra vós? – Gozou de novo o Miguel.
- Espera lá, um dos nossos craques foi até jogar para o Esposende S.C. , mas logo no primeiro treino acabou por jogar descalço pois a patanha, calibre 48, era tão pequena e calejada que não houve chuteira que lhe servisse!... No treino seguinte, foi preciso sapateiro-ferrador para lhe tirar as medidas!
- O melhor era a porrada pelo golo, sempre avaliado a golpe de vista. Era boxe do melhor. Às vezes, lá aparecia a GNR para amenizar a contenda. Muitos olhos viraram à “Belenenses” quando os seus olheiros até eram adeptos do Benfica e Sporting!...
(…)
- Eh, malta, já é tarde e acho que me vou – bocejava já o Heitor, depois de bem regado do whisky – combinamos aquilo amanhã, O.K?
- Nós também vamos – despediram-se os restantes comparsas – Ciao.
- O. K. Obrigado pela visita e aparecei mais vezes pois recordar é viver.


terça-feira, 22 de julho de 2008

Um quadro digno de Rafael...


Por certo que o grande pintor renascentista não pintaria um quadro com mais realismo e significado.

Os seus personagens nem precisam de qualquer comentário tal a amplitude e missão de cada um destes no contexto da cena - a assistência sanitária na área da enfermagem às populações autóctones.

Desde a vigilâcia do chefe de grupo, ao profissionalismo do enfermeiro Subtil, passando pelo espreguiçar de braços do "Preto", a eficácia do Varela na organização da lista de espera, até à malandrice de olhares do outro soldado que parece "inteirar-se mais de de perto" do sítio das "dores" da doente, tudo isto se enquadra às mil maravilhas na enfermaria-cubata da ocasião.

Cenas como esta até pareceriam desenquadradas num cenário de guerra mas, efectivamente, eram também uma realidade nesse nosso território de além mar.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Catraia do Cávado


RAÍZES


3. A prova de(o) esforço

Alex passeava na cidade tentando descontrair um pouco. De soslaio, ia comparando uns saldos de ocasião nas montras que faziam concorrência quase desleal umas às outras. Lá dentro, os 50% de redução propalados só se estendiam a meia dúzia de monos que nem a Unicef os aceitaria, dados que fossem. Saiu desiludido e retomou o passeio, à procura de alguma pechincha que valesse a pena. Naquela outra multinacional de roupas foi quase que abalroado, pois a multidão, como gafanhotos, engalfinhava-se na disputa do que ainda sobrava. Já ao sair, uma avozinha persignava-se perante a nudez com que alguém despiu uma Eva-manequim!
Ia-se até ao café mais próximo para entabular conversa com algum conhecido de momento quando alguém lhe tocou no ombro, por detrás.
- Desculpa lá, tu não és o Alex?
- Sou sim, ti Man’el, então que o traz por estas minhas bandas?
- Olha, meu menino, ando pr’á ‘qui meio perdido, quase há meia hora, pois não dou com o consultório onde se tiram uns exames e uma prova de força ao coração que o meu médico da Caixa me marcou para esta clínica. Sabes aonde fica o raio desta rua?
Alex esboçou um sorriso e retorquiu:
- Não será uma Prova de esforço, ti Manel?
- Eu sei-te lá dessas coisas. Vais ver que é isso!
- Não se preocupe, eu vou lá com o senhor, como assim os amigos são para as ocasiões. Venha daí.
- Obrigado. Isto d’uma pessoa ir nos oitenta e tais, já num atina lá muito bem. Sabes como é!
- Vai ver que vai correr tudo bem.
Alex recordou aquele lobo-do-mar dos tempos da sua infância. Não havia pincel de Miguel Ângelo ou Rafael que o retratasse tão bem tanto quanto ele o conhecia, pela bravura no mar e pela forma honesta e honrada como sustentou a família numerosa, em tempos de tamanha miséria, e que obrigou à emigração de tantos outros braços, lá da terra, para Brasis, Franças e Alemanhas.
Já na espera do consultório.
- Então tem a “máquina” avariada? – sorriu-lhe Alex.
- A força já não é a que era, filho, mas parece q’inda tenho de correr nuns tapetes, ou lá o que é!? Se fosse no meu tempo, quando era mais novo, eu é que os fazia correr a todos. Já num sou da tua geração. Sempre vivi na nossa terra e o mar foi a minha escola. Quase num sei ler nem escrever mas tam’ém p’ra que é que isso me servia, lá no mar de Cristo?
- Tem certa razão. Mas os tempos também eram outros e a fome obrigava a sair mais cedo da escola …
- Sabes, eu conheci-te de pequenino. Eras cá um traquina, tinhas um ar de franzino mas eras bom menino. Parece que te estou a ver a bater nuns godos e com o resto da canalha toda, atrás de ti, a cantarolar o S. João, nuns testos velhos. Já naquela altura tinhas esse jeito pr’ós cantorios e p´rós órg’os. O meu é que parece cansado!
- Acha que sim? Como adivinhou a cigana, as linhas das minhas mãos tinham umas curvas esquisitas – retorquiu Alex – Cada qual já vem talhado para a vida que há-de levar!?
- Não acredites nisso. Cada um deita-se na cama que faz!
- Talvez tenha razão.
Pois eu nunca mais me esqueci do senhor. Parece que o estou a ver, a chegar ao cais naquela catraia vermelha, todas as manhãs. Quantas vezes me deu uma e outra faneca que eu fazia intenção de frisar bem à minha mãe que tinha sido da parte do ti Manel e que aquela era para fritar, só para mim.
- Sabes que eu tinha bom coração. Não era como alguns pescadores e mestres que eram uns somíticos. Queriam o céu e a terra. Lembravam-se lá dos pobres!
- Oh ti Manel, aquilo dantes devia ser mesmo miséria, não?
- Passaste-a lá tu, menino. Se soubesses o que foi fome. O que valia era o mar, quando ele nos deixava lá entrar!...
- Conte.
- Olha, eu, os falecidos João do Pão, o ti Emílio, o Alfredo da Mouca, o João do Frente, o Rogério, o Li e o filho, o João Careca – qu’inda está vivo – o David, o “Lunetas”, o falecido Zé da Lucas – que Deus o tenha em eterno descanso que era também muito bom home – e tantos outros, esses é que sabem o que foi passar larica!
Quando íamos largar, conforme o tempo deixava, naquelas catraiazinhas de quatro remos, ou numa ou outra maior que levava sete homes mais o mestre, nós é que sabemos o que amargurámos naquele mar de Deus. Bem razão tinha o Zé da Lucas, ao chamar ingnorantes a esses ministros dum raio! Como é que a terra ‘inda há-de ter pescadores c’o a barra naquele estado, vão sustentar-se do ar e vento?
- E depois como é que era? – Indagou Alex mais curioso ainda.
- Olha, as redes ficavam lá mais duas ou três noites e, geralmente à terceira noite, nós íamos alá-las. E tornava-se a largá-las se o mar estivesse calmo. Se estivesse maresia, trazíamo-las p´ra terra. Depois o peixe era rematado lá no cais. Naquele tempo ‘inda as raias ero a dez mil reis!
- Mas como é que a campanha se reunia para ir para o mar?
- Tínhamos o moço dos seus catorze anos, acompanhado do pai ou da mãe, ele é que nos vinha acordar a casa e à restante da campanha. Os moços recebio meio quinhão até chegarem a homes, já pelos seus vinte anos. O mestre, de véspera, avisava que “amanhã vamos às rascas”. Atão, a campanha trazia a vela, a ustaga – um tipo de roldana –, o balde das chamas, – uns paus piquenos que se metiam nuns buracos para fixar os remos ao barco –, o cabo grande ou poitada, – para se dar fundo e parar a catraia no mar –, a cesta do mestre com agulha, – a bússola –, o lampião com vela pr’a se ver de noite. Roupa do corpo – quem a podia ter! – Era de japona, avental de lona que era curada com óleo de bacalhau, o suerte, – boina oleada – a …
Entretanto, a assistente do consultório chamou.
- Sr. Manuel da Silva … de Esposende. Entre para aqui para este gabinetezinho e espere um pouco.
(…)
Passada quase meia hora.
- Então, custou muito? – perguntou Alex.
- Cala-te, menino, eu até fiquei invergunhado quando a moça me quis rapar os pelos do peito e me pôs cá uns fios inléctricos na barriga que eu até punsei mal, pr’a que raio era aquilo!? Depois amandou-me para um tapete que começava a rolar mais depressa que as pernas e quase que me deu o bafo, parece que estava a subir o S. Lourenço e os raios de todas as caretas dos demónios do órgo da matriz a puxarem-me p’ra trás!... fôda-se que caiso desmaei no consurtoro …
- Não se aflija. Isso é igual p’ra todos nesse exame da Prova de esforço. Vai ver que ainda vai poder correr a maratona!
- Sabes do que m’alembrei?
- Diga.
- Quando íamos aos figos ao Sebastião: fugíamos que nem ratos que o hóme era tolo quando nos apontava a caçadeira de chumbos!...
(…)
A caminho da camionete.
- Olha que até foi rápido, só não sei ao que vinha, mas já passou. Agora tenho que pegar a caminheta do Linhares, ali na estação, mas já nem sei p’ra que lado é!?
- É já ali. Eu vou consigo.
- Mas como te estava a contar… aquilo, para vir p’ra terra, num era fácil. Se o vento fosse leste ou sueste não convinha muito porque empurrava a catraia p’rá sepurtura do mar. Em cada costura da vela tinha umas rises que, quando o vento era demais, a vela enrodilhava-se toda e era um “Ai Jasus”. Lá tinha que ser à força dos remos – alguns de nós tínhamos sempre as manápulas cheias de bolhas! – três de cada lado e o mestre, à ré, como hóme de leme.
- Ainda se lembra dessa malta do seu tempo?
- Atão num lembro, e que homes esses! O finado Laguna velho, o ti Américo, o Manel Libra, o Manel da Fanada, o Tóne Tuta, o Trocato, o João do Pinto, o Manel Libano, o Feliz, o Miguel, o Chapuz, o Marcelino Cavalas, o Abilo Calica …
- E lá no cais?
- Aquilo, quando o S. Pedro ajudava, era peixe de toda a espécie. Nas rascas vinham: raias, redobalhos, lagostas, lavagantes, caranguejos, peixe-sapo … Ao anzol, ero os congros e o espinhel. Nas linhas da faneca, de anzol pequeno, era uma farturinha. Depois havia as redes da lagosta, ou rascas de pedra, largadas em cima das pedras, no fundo do mar. Os cofros para o polvo, navalheiras, peixe-rosa, camarão, peixe-espada – que era pescado à mão com anzol e isco de marisco ou sardinha, ao pôr ou ao nascer do sol. As gigas de sardinha eram vendidas por lotes e cada uma deveria ter à volta de umas duzentas sardinhas! Mas a sardinha era só de uma safra. Mais tarde, aparecero os tresmalhos de três redes e as redinhas pr´á faneca, badejo, pintas, robalos … agora é tudo mais fácil com os motores. Mas tamém te digo, como isto está, nem vale a pena ir ao mar, pr’a lá ficar!
- E as catraias não vertiam água nem inundavam com tanto peixe?
- Sabes lá tu! Quando o mar era alto, aquilo até podia dar para o torto e era preciso ter um hóme só pr’o bertedoiro, para escoar a água das cavernas. Era uma iscuridão tremenda, só alumiada pelo lampião de vela, suspenso num remo ou na vara grande, junto ou dependurado no mastro que servia tamém prá nossa localização. Tinha mar de trinta a carenta jardas de profundidade!
As redes eram assinaladas com uma bóia marcada e bandeira próprias da embarcação do mestre mas, às vezes, aquilo também era uma ladroaje do raio, mas a gente acabava sempre por saber quem foro os gatunos … cando num ero as traineiras e um ou outro arrastão que nos davam cabo delas.
Cando a campanha chigava à terra, depois da lota, partia-se o dinheiro, em casa do mestre, sentados no xão, com feijões, pois poucos sabio ler. Se o dinheiro era em notas daquelas grandes – atão as de cem mil réis parecio quase um lençol! - Ia-se ao ti António do sul, ao Loureiro, à Pastilha, à Siloca, p’ra se trocar. Vida de cão, aquela!
(…)
Chegados à estação de camionagem.
- Pronto, ti Manel. Já cá está. A que horas parte a camionete?
- É às seis, mas como é a do desdobramento e com todas aquelas voltinhas por Barcelos e c’o a gente da feira a entrar e sair, só lá pr’as sete e meia é que devo chegar a casa! Vou ver se a Maria me deixou o presigo ou o resto da caldeirada …
- O quê? A carroça anda só a 30 à hora? Mais valia ter alugado a do Man’el Louceiro, ao menos a “gasolina” era à borla e os “fumos do escape” ainda serviam para adubo!
- Bem podes rir. Na era dos foguetões e dos TGVezes aquilo mais valia ir pró museu …
- Um abraço e até à próxima. Não se preocupe que a “máquina” ainda vai durar uns anitos!
- Deus te oiça, filho, Deus te oiça. Obrigadinho pela ajuda.
- Vá com Deus e faça boa viagem.

sábado, 19 de julho de 2008

N.T. 2-0 IN ...


A páginas tantas da nossa guerra e com o "empate técnico" entre as N.T. e o IN ,e já depois do "prolongamento", a "CNN" quis indagar no terreno como iam as coisas e se tencionávamos "ir a penalty's".

Reunido o "alto comando" na mata, e como a coisa iria correr meio mundo, decidiu-se apresentar "resultados" e para o efeito sensacionalista desejado pegou-se no que havia mais à mão (?).

O repórter de imagem captou em "flagrante delito" os nossos dois guias que posaram mui amavelmente embora "ameaçados" por dois soldados NT e lá os fizemos convencer na reportagem de campo que, efectivamente, aquilo era mesmo uma questão de horas, pois o resto do IN estava mesmo para chegar...

Obs. na ocasião, os dois guias terão desviado parte de alguma ração de combate de um soldado mais distraído e a "pena militar" mais leve foi a "colaboração"!...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

RAÍZES - 2. A passagem do testemunho



A passagem do testemunho

- Mãe, este fim-de-semana não como em casa pois vou com a turma ao Festival de Vilar de Mouros e só volto lá p´ra Segunda, à noite.
- E quem vos leva e traz? – Quis saber a progenitora, um tanto preocupada pois queria-o em casa a horas de não faltar à explicação de Matemática.
- Olha, vamos no jeep do pai de um colega nosso, pois o Luís já tirou a carta. Aquilo toca uns Euros a cada um, de modo que levamos uns sacos-cama e a malta desenrasca-se.
- Filho – atacou o pai – vê lá que não façais desacatos nem andeis na droga, que é o que se vê tanto por aí!...
- Descansa, o meu grupo não alinha nessa. Bastam umas Cocas Colas e uns frios e o resto a gente topa lá.
A Ismael, para além dos estudos, não lhe sobrava muito mais tempo pois metera-se ainda no futebol, no coro da igreja e num conjunto rockeiro e aquele festival era mais uma ocasião para ouvir o último grito pop, techno, rap e reggae, linguagem que dominava de trás para a frente, para não falar dos êxitos dos actuais desde a “avó” Tina Turner, aos David Bowie, Michael Jackson, Madona e outros mais de nomes esquisitos.
- Pai, conheceste os Pink Floyd?
- Claro! Ou pensas que no meu tempo não havia discos? Eles e os Queen continuam a ser ainda do melhor que há. Um dos seus êxitos, em 73, The Dark Side of The Moon, foi um sucesso na altura. Quem esqueceu o seu guitarrista David Gilmour, o baterista Nick Mason, o teclista Richard Wrigt ou o baixista da banda Roger Waters?
- Puxa, ainda os recordas?!... São mesmo beras, os tipos. Então essa música é mesmo bestial. O baterista do meu grupo passou no leitor CD e estamos tentados a tocá-la. Por falar nisso, tens músicas que se vejam nos teus antigos discos de vinil?
Alex levou o filho ao seu cantinho discográfico, feito quase museu e que ocupava parte significativa do móvel da sala de estar, atulhado de CD.s, DVD.s e respectivas aparelhagens de apoio e que já não tinha mais espaço para pôr fosse o que quer que fosse, para além da livrarada, o mais variada possível, que pedia licença para continuar a ocupar o seu espaço exíguo, à espera da largueza suficiente de se mostrar, por reforma de qualquer excedente ou desactualização dos seus comparsas daquele mostruário. Encontrado o azimute dos vinis, cada bufarada de pó fez surpreender o garoto, sobretudo os discos de 78 rotações, provocando-lhe um espanto inusitado.
- Tens aqui os Rolling Stones! – Admirou-se Ismael – Quem foi a Janis Joplin? – retorquiu.
- Olha, imita-lhe os êxitos, não a forma de viver: morreu de overdose!
- Puxa, pai, o Mick Jagger …os Who … Led Zeppelin! Olha aqui, os Bee Gees (…)
Alex reviu-se no tempo.
(…)
Acabava de chegar de mais um fim-de-semana do tirocínio da sua especialidade militar, atirador de infantaria que, por sinal, era o último, antes de embarcar para o Ultramar. Tempos antes, metera-se também num conjunto Pop que, a princípio, funcionou nuns forrinhos, ali pró lados da Central.
À falta de instrumental eléctrico apropriado, ia-se improvisando com umas violas acústicas a que se acoplava um mini- amplificador e simulando a bateria, fazia-se o beat em cima duma mesa ou cadeira. A princípio, eram mais os instrumentistas que os instrumentos, mas passados uns tempos, lá foi possível compor o instrumental e houve até um elemento que, a custas próprias, comprara a bateria, ou melhor, parte da bateria, que se limitava ao bombo, caixa e prato!
Ainda se desenrascou uma amplificação, já em desuso na matriz, mas o feed back era tanto que azocrinava os ouvidos. Para não parecer mal, teve de alugar-se uma para a primeira actuação, no salão paroquial de Gandra. O convidado especial foi frei Hermano da Câmara. Parece que a estreia agradou, mas o final ficou para o fadista que bisara o Eu me entrego todo a Cristo. Um êxito!
Os ensaios foram mudando de poiso até acabarem na cantina da escola, à noite. Não se podia xinfrinar muito pois tinha-se a GNR à porta! O conjunto, ETC de nome, ganhava fama pelas redondezas e, daí em diante, por imperativos de vidas, os seus elementos foram rodando. Tornara-se convidado de vários bailes no concelho e até em distritos vizinhos. Actuara nos velhos Bombeiros, em bailaricos de final de ano e Carnavais e passara também no Núcleo, club de confraternização de muitos dos esposendenses de então.
Tocava-se de tudo, desde o tango à valsa, do twist ao slow, e os cantores e êxitos da altura: Roberto Carlos, Adamo, Sheila, Alain Barrière, John Holliday, Silvie Vartin, Camilo Sesto, Charles Aznavour, entre tantos outros. Mas os mais solicitados eram os românticos brasileiros: Wanderley Cardoso, Wilson Miranda, Lindomar Castilho, etc. Os pombinhos solicitavam O que é que você vai fazer no Domingo à tarde? ou Espere um pouco, um pouquinho mais do Nelson Ned. Para a malta da pesada havia os grupos ingleses e americanos: Beattles, Led Zepellin, Jim Morrison, Doors, Stevie Wonder, Bee Gees, Génesis, Dire Straits, Police, U2, Deeep Purple e o mais em voga.
Pelo meio, ficaram noitadas bem passadas e o calcorreio de terreolas meio desconhecidas, no velho furgão a gasóleo onde se ia, como sardinha enlatada, para dar espaço à aparelhagem e colunas de amplificação. Mais tarde, acabaria por desfazer-se e os instrumentos divididos entre os componentes da altura.
Triste sina a do seu fim que acabaria também, mais tarde, com o infortúnio de três dos seus antigos elementos. Paz às suas almas.
(…)
- Pai?
- Diz, filho, então, topaste o que querias?
- Sim, só não sei como posso ouvir estas relíquias!?
- Ora, rapaz, puxa aí desse gira-discos.
- O quê, esta geringonça? Dá-se à manivela?
- Não, puto, isso era no século passado.
- Porreiro!... Fixe, meu! Vou levar à malta, posso?
- O.K., meu, estás nessa?
- Não gozes!...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

-Onde fica o Norte?


Algures nas matas do Uíge e nos percursos das enúmeras operações que fazíamos confrontávamo-nos, algumas vezes, com perdas de orientação pontuais, embora chegássemos sempre ao destino... pelo menos à base do aquartelamento de onde tínhamos saído!

Os mapas da altura não aludiam a determinados pontos referenciais e estratégicos no seu aspecto militar, sendo penoso saber onde é que efectivamente estávamos quanto mais para que azimute nos haveríamos de dirigir, com bússolas obsoletas que desnorteavam mais que supostamente nos orientariam!

Mas nada que nos preocupasse e, para descontrair do cansaço que nos já nos massacrava o corpo e o espírito, na brincadeira, toda a gente opinava como se houvesse mais comandantes que comandados. A decisão final seria tomada em pró da experiência já acumulada pois muitos daqueles trilhos eram já um habitué das nossas passagens anteriores.

Na foto e para a posteridade, o saudoso furriel Cunha "obrigava" a rumar a Noroeste - uma fazenda onde a tropa sempre podia beber uns copitos... - enquanto o cabo rádio-transmissões Rato ria-se a "bandeiras despregadas" pois o seu Racal também parecia já ter "dado o pifo"!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

RAÍZES - Destinos cruzados



- Olha quem ele é! – Surpreendeu-se Alex, ao reencontrar o velho amigo das brincadeiras da Ribeira e rival do sul, emigrado em França.
- Cada vez estás mais novo, ca…ra…lho! – Gaguejou o comparsa de escola e também camarada de armas, aos tempos da velha Senhora, em Angola.
- Então, por vacance(s)?
- Nunca falho às festas da Sra. da Saúde – adiantou o Tai e um habitué dos andores da procissão – Os meus filhos já nem ligam a isto, ficaram em Nancy. Vim apenas eu, ma femme e este meu netinho, o Michele.
- Outros tempos! – Anuiu Alex – Eu continuo a cumprir a promessa de ir ver a entrada das bandas, ali à praça. Vou apreciar o contramestre do Zezinho que vai reger a banda dos Bombeiros, enquanto aproveita para cumprimentar a comissão de festas e os maiorais da câmara!...
- Ele ainda improvisa aqueles fados e uivos guturais para os banhistas?
- Parece que sim. Também te digo, sem estas figuras típicas de fazer engolir o cigarro atrás da língua, por ilusionismo barato, e dar o seu pé de dança, já nem parece Esposende...
- La belle idée! Acom…panho-te.
No largo da Câmara Municipal, à espera da entrada das bandas de música.
Atento às diabruras de Michele, o avô tenta repreender o puto:
- Michele, tu vas tomber!
- Mais non … grand- père…
- Então, que contas? – Reatava a conversa Alex.
- Olha pá, os filhos já eram, os netos já são e agora estou qua…se na retrete
- O quê, mas tu não trabalhavas nas obras?
- Mais oui! Que…ro dizer, que estou a tratar da minha reforma.
- Fazes bem. Por cá, já só de bengala, com reumático ou esclerose múltipla comprovada é que a gente irá de vacances … p´rá retrete!...
- Ou la la? C’est tout une merde.
- Que já se cheira ao longe! ...
Entretanto, Michele tentava escalar a estátua do Correia de Oliveira.
- Michele, tu vas tomber! – Preocupava-se o amigo.
Virando-se para Alex:
- Lembras-te dos velhos tempos, lá no Ultramar?
- Se recordo…
(…)
Alex viu-se mobilizado para a guerra e, com ele, mais uns milhares de mancebos por esse país fora e alguns dos seus conterrâneos.
Já em Luanda, reencontrara-o no Grafanil – centro de mobilização geral de Angola.
- Então, pá, também por aqui? - Admirou-se o amigo, de Operações Especiais, enquanto aguardava ida para o Leste.
- Como vês, parece que calha a todos!...
- Olha, a malta só aguarda transporte dos páras e fala-se numa mega operação lá para o Leste …
- Porra, parceiro, isto está assim tão mau?
- Bem, como ainda estás a chegar, será melhor veres por ti. A propósito, para onde vais?
- Sei lá, pá, é lá para o Norte, um aquartelamento algures no mato …
- Vê que não te calhe a rifa de Nambuangongo, aquilo é fogo da pesada!
- A nossa malta é tropa macaca mas o capitão é dos Comandos!...
- A propósito, sabes quem está na prisa?
- Conta.
- O Salsichas. O gajo pirou-se e andou à porrada com um alferes e pô-lo a soro e ligaduras, no hospital militar!
- E agora?
- Agora, vai alinhar por duas comissões de serviço, se entretanto sair da gaiola!
- Boa sorte, lá pró Leste – augurou-lhe Alex - a gente ainda se há-de ver por aí...
- Para ti também. Ciao.
A caminho do novo aquartelamento.
A fila indiana das Berliets que os conduziam para o Uíge nunca mais chegavam. Terra batida, barrenta, pegajenta de mosquitada. E subiam, e desciam …
Picada fora, procurou no bolso do camuflado um cigarro. Entretanto, no transístor do condutor, a Rádio Luanda anunciava manifestações patrióticas no Puto. Um político de ocasião ainda discursava: (…) "A quantos souberam bater-se para que todos possam viver (…) Por isso, nesta manhã dos heróis prestamos sentida homenagem aos varões assinalados que fizeram história no Ultramar português" (…)
A seu lado, o Furriel progressista reavivara poemas de Manuel Alegre.
Ouviu-lhe:
Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
(…)

O Cabo alfacinha aproveitou a boleia poética e trauteou:
Mamãe, tu estás tão longe de mim
Mamãe, sinto que estás a chorar
(…)

Pelas cinco da matina, ao fim de doze horas daquela tormenta, sonolentos e alquebrados, feitos manteiga e rançosos de poeira por tanto solavanco, alguém berrou da primeira viatura:
- Eh, Companhia, chegamos! Toca a perfilar para a revista.
Como morcegos assustados, ainda meio sonâmbulos, as viaturas militares iam vomitando toda aquela “carne para canhão”, preparada de armas e bagagens para o que desse e viesse.
De nascente, a aurora avermelhada aproximava-se, a passos de gigante, e olhava curiosa aquela tropa maçarica que nem imaginaria nas que se iria meter. À porta de armas do Batalhão, a sentinela ainda dormitava e acordada de supetão, saltou da guarita e berrou:
- Meu Sargento, chegaram os Comandos!
O Sargento de Prevenção, chateado por o acordarem a desoras mas farejando ao longe aquelas fardas engomadas, logo lhes “tirou as medidas”.
- Quais Comandos, minha besta-quadrada, são os maçaricos do Puto que vão p’ra Mucaba. Vai acordar o nosso Oficial de Prevenção.
Meia hora depois, o Comandante da Unidade, acompanhado do Tenente Formosinho, aparecia à porta de armas:
- Atenção, Companhia, apresentar… armas! - Grunhiu o Capitão daquela tropa fandanga.
Um estalejar de mãos nas G3, acompanhando os coices das botas dos soldados no alcatrão da parada, ressoaram quartel dentro, substituindo-se ao toque de alvorada do corneteiro.
Respondendo à saudação de Ordem Unida, o Comandante mandou descansar.
- Descansar … armas!
O Tenente-coronel Amoroso ladrou as boas-vindas aos recém chegados. No seu discurso patriótico, apelou à desinfecção dos turras na zona prometendo até umas feriazinhas surpresa no Puto, a quem lhe trouxesse alguns desses “troféus” como prova. E continuou:
- “ (…) Portugal é um Império e Angola faz parte dele – ressoava ainda o seu vozeirão, assustando a passarada que esvoaçou em momento tão solene – por isso, soldados, sede dignos da farda que usais como os bravos heróis de Pidjiguiti, Mueda e Baixa de Cassange” (…) – e terminando: muita “merda” para a Companhia.
No trajecto, a caminho do aquartelamento, uns bons 40 quilómetros ainda para norte do Uíge, o transístor cantarolava:

Ó povo heróico português,
Num esforço estóico outra vez
(…)
Angola é nossa
Angola é Portugal!...


Desde aquele dia, Alex sentira que a confiança que o animava se começava a esvaziar como um balão.
Seriam os novos senhores da guerra!
(…)
Já no final do desfile das bandas e os cumprimentos da praxe.
- Pois é, pá – rematava o Tai – logo no arraial vai haver disputa entre as duas bandas. Vou ver se também desenfer…rujo as pernas, se os gajos tocarem umas rap …sódias.
Cada vez mais preocupado com o filho, que já se encarrapitara na estátua do poeta.
- Michele, tu vas tomber!…
Após queda do miúdo.
- Filho da puta, já caíste!
Michele aterrara são e salvo nas hortênsias do canteiro, mas nada de grave, a não ser uns pequenos arranhões num braço.
- Mais non, Michele, c’est tous bien mon fils? - Afligiu-se o avô.
- São crianças. Isso passa logo – despediu-se Alex – Se a malta não se vir, felicidades. Boas férias.
- A bientôt!





RAÍZES - Pôr-do-sol em Esposende


RAÍZES (?)

É apenas mais um ensaio literário de partilha com os meus leitores com episódios muito centralizados na realidade dos anos 50.

Depois da experiência literária do Também eu estive lá..., esta é mais uma incursão na área do romance que o autor tem vindo a explorar, dando aso à sua imaginação e tendo como centro a sua envolvência no litoral minhoto e na labuta do mar.

Os anos do pós guerra, de Salazar, Américo Tomás e Caetano, foram difíceis para um Portugal que se viu remetido à emigração por falta do sustento familiar e onde a fome grassava em cada aldeia deste Portugal.

Cada episódio pode configurar, para os meus leitores na casa dos 60, vivências bem paralelas conforme as suas circunstâncias e locais próprios.

A escola, a doutrina, as bricadeiras de miúdos, o trabalho duro da terra e da faina do mar, a fome, o analfabetismo e tantos outros temas e vivências foram comuns à maioria dos nossos concidadãos.

Espero que apreciem e queiram opinar.

P.S. Partilharemos, alternadamente, com os episódios da Ônzima3411.

Lino Rei

Selecção "Olímpica" está aí ...


Longe dos olhares da imprensa nacional mas em exclusivo para as revista"CARAS" e "News", a nossa selecção olímpica masculina apresentou-se em Quivuenga-city-resort.

Antes deste desiderato, todos os "olímpicos", vestidos pela estilista internacional Fátima Lopes, tiveram de superar os "mínimos" exigidos, cada qual na sua "especialidade".

Foram batidos alguns "recordes" como no tiro onde se exigia que à distância de 50 metros se abatesse uma pacaça, com G3, ou numa distância maior se "limpasse o sebo" a um porco-espinho.

Na estafeta dos 100 metros barreiras, um dos recordistas conseguiu a proeza inédita de em 09'69" chegar primeiro à meta das rações de combate ainda disponíveis. No triatlo "operação vs IN", a combinação entre o peso da mochila "todo-o-terreno", G3, camuflado, cinturão com 2 granadas e dilagrama acoplado e ainda as botas de campanha... haveriam de dificultar a missão do nosso representante que, mesmo assim, conseguiu nadar, sprintar e acabar a prova de ciclismo no espantoso tempo e quase record mundial de 2 dias, 6 horas, 27 minutos, 14 segundos e 6 décimos!...

Foi obra!!!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Moda/72 em Curral das Freiras ...


No New York Times e com tradução portuguesa podia ler-se:

"O estilista Guido Valentino apresentou a sua passagem Primavera-Verão, na Madeira.

Quatro dos seus mais famosos modelos masculinos internacionais posaram para a objectiva. O russo Coelhev apresentou-se com um toque de estilo lusitano utilizando um boné-Marceneiro que perpectua o modelo-fadista português. Já o grego Leitaoridis fazia uma magnífica combinação latina com calça azul escura e camisola pelo grenã. Revivendo os tempos áureos do cinema, o modelo britânico Reiking protegia-se dos efeitos ultravioletas do astro-rei com um belíssimo palhinha como ressuscitando o famoso comediante e bailarino de sapateado Fred Astaire. Por fim, atente-se no turco Nuneskirttsy com um penteado de toque mágico ondeado que combina às mil maravilhas com o azul turquez da sua camisola. Todo este visual caleidoscópico não poderia ficar melhor enquadrado senão em toda a envolvência do cenário quase idílico de Curral das Freiras".

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Posto de comando e outros apetrechos...


Coisas de simples pormenor:

1. Pessoais: óculos escuros, relógio de pulso com bolsa de protecção escura, boina com pin "contestatário", t/sheart oficial branca estampada mas camuflada, pulseira de ouro -"isco" para atrair o IN.

2. Outros: escrivaninha "todo-o-terreno", mini-guião da Ônzima, telefone preto regimental escuro - o vermelho tipo "Casa Branca" estava camuflado na sala ao lado e com ligação semi-directa via fio condutor cortado-, cinzeiros estilo cubata e estilo lata de atum, pioneses,"resmas" de autos de justiça, ordens de serviço e esquemas operacionais "ultra-secretos", lápis Viarco, esferográfica VIC, caneta de tinta permanente azul, etc.

3. "Cabeças pensadoras": O Comandante-em-chefe da 3411, de saudosa memória, e um dos seus vices.

Era só organização!

sábado, 12 de julho de 2008

"Resmas de gajas"... quem dera!


No Songo-city, habitavam e iam confraternizando conosco algumas belezas raras que fizeram desfazer e derreter os nossos corações de apaixonados...

Após o duro da picada, do destamento ou das operações era sempre uma benesse a malta poder, no mínimo, apreciar uma caras larocas. E à falta de melhor e em qualidade, pelo menos sonhávamos, pois como diz o poeta "O sonho comanda a vida".

Alguns destes amores e desamores ficaram ligados a muitos de nós, embora só de passagem, pois coisa séria ainda permanecia no Puto à nossa espera.

Também elas compartilharam das nossas pequenas "guerras".

Um abraço muito apertado para estas jovens, se nos "sintonizarem" no blogue, pois, tal como para nós, a idade também não perdoa.

- Quem se "acusa"?

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"Frente ... marche!"


Ora cá está a foto que faltava! A Ordem Unida.

Ainda no BI19, em S. Martinho, no Funchal, eis uma bela imagem das NT em exercícios de estratégia militar. Repare-se no perfil e aprumo desta rapaziada - pese embora o seu fardamento de caqui-pardo e Kiko-boné que deve ter sobrado ainda da II Guerra Mundial - e dos seus "comandantes-em chefes" (Pegado, na dianteira e ala esquerda e Rei, lá na frente, de que só se vislumbra meio corpo ).

Na ocasião precisa, após alguns exercícios de relaxamento e apresentação formal na parada, esta elite militar deslocar-se-ia em "Passo de corrida" para auferir o seu pré mensal de 2#23 (dois escudos e 23 centavos) que, para a época, era uma verdadeira fortuna!...

Para os anais da História.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Ao "ataque" ...


"A melhor defesa é o ataque" lá diz a gíria futebolística.

Quando "atacados" pela necessidade "bélica" de aliviar o stress e o estômago, a "cambada" fazia infiltrações de "golpes de mão" e "golpes de boca" e "emboscava" tudo o que lhe aparecia à sua frente...

Alguns "comandos" iam até ao pormenor de tentar "descascar" o IN ( camarão) que ainda sobrava da "refrega" para ser triturado com último gole de cerveja!

Na cena, a sofreguidão e rapidez de um "ataque" quase surpreza e bem sucedido das Nossas Tropas ...

Alguns destes militares da 3411 seriam "galardoados" com a medalha de prata da "Cinta gástrica" que, para além do seu valor estimativo, serve também para refreamento de certas "investidas"...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Os "herdeiros" de Onassis...


In illo tempore (na altura) os únicos três herdeiros do famoso armador grego encontravam-se de passagem pela Madeira num dos seus enúmeros iates, ancorados algures na baía do Funchal.

Mr. Pagadopoulos, Mr. Leitesuranis e Mr. ReiKaridis, à boa maneira brasuca, posaram com os já famosos sombrinhas que são também uma marca de referência da ilha e made in Madeira.

Estes irmãos de sangue "rumariam" mais tarde a Angola para a prospecção e exploração das suas várias minas, nas que se incluíam as de ouro e de diamante. No seu amor pela Nação, defenderiam o torrão pátrio das investidas IN (Intromitation Napolitana = Mafia) dando um grande contributo na cedência da matéria prima das minas de cobre e estanho, imprescindíveis ao fabrico do material bélico (armas, munições ...).

Como tal, a Pátria, e num pequeno gesto de gratidão, homenageou-os com as "cruzes de ferro e espada".

Para que conste nos anais da História!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Lembram-se deste modelo?


Numa das "vacanças" a Luanda, algures para a ilha do mesmo nome, estes três "marujos de água quente" deram-se ao luxo de posarem junto ao dito cujo, um modelo de fazer inveja à nossa frota oleada de "verde-azeitona" pois este último deslizava mais suavemente pelas avenidas da capital e sem os sobresaltos dos "caroços" militares na picada .

Atente-se na inveja do Coelho chateado pelas férias estarem no fim, ou na pedantice do Neves armado em dono do Austin - a propósito, onde pára este gajo? Quanto ao Rei também devia estar desesperado pois o pré já se tinha ido e estaria a pensar como o Vale de Azevedo: "Se quiserem, venham cá buscar-me, que eu daqui não saio".

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Hotel de 6 estrelas em Quivuenga-city


A quase simbiose das óptimas relações entre as forças militares e civis, implicava determinados "protocolos" de relação mútua num do ut des (à letra: dou se me deres) onde cada qual tirava os seus dividendos.

Assim, a Acção Psicológica da tropa só funcionava se as populações autóctones e civis ajudassem por forma a denunciar hipotéticos indícios do IN que, também à sua maneira, procurava cativar estes mesmos para a sua causa.

No meio desta "caça ao rato" havia casas comerciais, como as narradas no livro "Também eu estive lá", que faziam o seu negócio hipotecando os pretos em círculo vicioso, e estes haveriam de continuar ab aeternum em dívida.

Na foto, do "magnífico resort" do aquartelamento e com bandeira içada, projecta-se um desses hiper-mercados e mais ao fundo - em esbatido(?) - o actual hotel de 6 estrelas onde a nossa selecção de Ragby ensaiou o seu famoso hino de guerra: "Às armas, às armas ...".

É caso para dizer que a bandeira ainda era motivo de orgulho!

- E agora?

domingo, 6 de julho de 2008

O capim "biológico" (?)


Capim a planta gramínea e quase sempre forraginosa está na ordem do dia !?

Dada a cada vez mais escassez de alimentos naturais, os nossos "manda chuvas" estão a estudar a possibidade da reconversão biológica desta planta e mui abundante para os lados da Quivuenga-city. Há já conversações ao mais alto nível com o governo lusófono e com as altas patentes militares da região para a importação em "massa" de toneladas daquele tipo de "pastagem" que tal como se vê, claramente visto, pode atingir a altura de uns três metros!

Na foto, um dos "fazendeiros" guardando o produto biológico.

P.S. dada a altura da planta, convém cortar à catanada em dez partes iguais ou, em alternativa , fazer "spaguetti" à italiana.

sábado, 5 de julho de 2008

A "árvore das patacas" - o manganório


Anda toda a gente aflita com a variação dos spread's bancários para aquisição de casa própria e quase desesperada em tentar pagar as taxas de juro cada vez mais altas, impostas por uns tais "nabos"de Bruxelas (ou "couves de") da CEE, quando o "milagre" está mesmo ali ao lado (?).

Explico: só tens mesmo de viajares em "turística" até ao Songo-city e fazeres abanar uma árvore-manganório, perto das antigas instalações militares da Ônzima, e teres a sorte de qualquer das mangas te cair directamente na cabeça. Ao abrir-se-lhe o recheio na dita tola e veres uma série de "estrelas", talvez se te "faça luz" para que é que te meteste a comprar apartamento e se não seria mesmo melhor teres ido viver para casa dos paizinhos!...

Mas já que o mal está feito e não puderes pagar, faz como o Vale de Azevedo e os gajos que te vão buscar de avião para onde quer que tenhas "ido passar férias"...

E já agora, manda um postalinho!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

As "grandes superfícies" a céu aberto ...


Ainda nem se pensaria sequer nos hiper actuais e já na altura se comercializava, a jeito de feira franca, todo e qualquer produto das redondezas.

Para além deste ficar muito mais em conta e ir directamente do produtor ao consumidor, evitando-se toda uma panóplia de intermediários, aquele podia ser testado na hora e devolvido à procedência se não estivesse conforme as regras da "ASAE"...

Esta zona franca servia também para certas "combinações mais recatadas" com o preço a ser combinado na ocasião.

A acção psicológica da Ônzima podia passar também pelo transporte de qualquer doente até à base hospitalar mais próxima e sem quaisquer custos acrescidos.

É o que se diz: "três em um"!...


quinta-feira, 3 de julho de 2008

Os fórmula 1 da ONZIMA


"Autopulmans" descapotáveis da ONZIMA

Pois como se vê e claramente visto, os transportes da ONZIMA tinham a particularidade de permitirem aos seus utentes que apreciassem toda a envolvência dos "ares da serra"...
Faziam-se até "prospecções" no terreno de abastecimento e alguns "golpes de mão" mais audaciosos sendo o "espólio" dividido entre as partes.
De apreciar dois dos mais luxuosos veiículos da frota da ONZIMA, em verde azeitona que era então a cor da moda em bólides "todo o terreno", preparados já para locomoção amfíbia.
Os "turistas" da ocasião iam igualmente para um desfile de moda numa cidade mais do interior. Atente-se na particularidade ímpar de vestirem modelos expressamente confeccionados em Lisboa nas OFEP (oficinas de fardamento do Exército Português), e com acessórios únicos - g3, gm, fm, etc. fabricados nas OBP (oficinas do braço de Prata).
Aliste-se!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

"Mademoiselle" JIBÓIA


"Deixem-me descansar ..."

Uma das atracções do zoo natural da região é a Tupi jiboi mais conhecida entre os autóctones por jibóia, uma serpente que, quando esfomeada, pode simplesmente engolir um boi inteiro como se de coisa simples se tratasse!...
Para além deste exemplar da fauna angolana há ainda a pacaça, o porco-espinho e uma miríade de outros exemplares que se podem cruzar na picada, a qualquer momento, com o turista enquanto este pratica o seu joging matinal... só tem que dar prioridade ao bicho(s).
Da família dos insectívoros, o mais temível é o causador da febre palustre ou paludismo - e eu que o diga! - que obriga a cuidados de "bronzeamento" forçado e rede fina de proteção ou mosquiteiro. Em alternativa, pode sempre usar o leque "jogando ténis" com o dito cujo...
Para esta última praga, os turistas podem contar com antídotos próprios, desde que cumpram as regras do SNS.
Vá, passeie, que o coração agradece.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Amassando o pilão ...


Outra das grandes atracções de Mucaba-"Resort" é um passeio turístico em moderno autopulman até à reserva privada do Resort para apreciar a confecção artesanal dos vários condimentos gastronómicos do mui diversificado menu angolano e que exige a competência de grandes maitres.

P.S. O preço não inclui bebidas e despesas de carácter pessoal e quaisquer serviços não mencionados como incluídos.

A gerência não se responsabiliza por danos futuros que possam advir de paragens individuais fora do grupo.

N.I. Recomenda-se:

Calçado muito cómodo;

Roupa fresca e cómoda mas sem esquecer protecção para o cacimbo que se possa vir a sentir.