sábado, 15 de novembro de 2014

Introdução

INTRODUÇÃO
Vinte e nove anos depois do nosso regresso do Norte de Angola, as estórias que se seguem pretendem apenas retratar os pequenos acidentes de percurso no mato, mescladas com situações de aparente normalidade vividas no nosso quotidiano. Elas são o reflexo de uma região que, por si só, para além do perigo que constituía uma situação de campanha militar, em zona climatérica adversa e tão cicatrizada por uma guerra de guerrilha, condicionou outros modos de ser e de esta...r, bem diferentes dos vividos no Continente.
Não foi minha intenção enveredar por caminhos de discernimento político sobre as causas que estiveram adjacentes a este conflito, que durou 13 longos anos, mas tão-somente ir ao encontro de antigas recordações já esbatidas na memória e que fotografias dos álbuns ainda nos fazem reviver. Por isso, a frequência dos últimos encontros, iniciados há uns anos a esta parte, têm servido para alicerçar amizades e as horas desses convívios mais nos parecem minutos, tal a sofreguidão que cada um tem ainda por “despejar o saco”.
Para além das situações narradas pelo autor, juntam-se outras experiências vividas pelos seus camaradas de armas e, dessa forma, tenta-se refazer um quadro mais aproximado da realidade.
Está implícita, nas linhas que se seguem, uma palavra de eterna saudade para os camaradas falecidos nesta comissão em Angola e para os que, já após o regresso, foram dar contas ao Pai. Recordamos, entre eles, o ex-comandante da Companhia, já então tenente-coronel Humberto Pinto de Morais e o primeiro-sargento Azevedo e, em campanha, os infortunados furriéis Basso e Cunha e o soldado Júnior.
Estas e outras estórias por contar constituem, para muitas outras famílias, traumas e marcas de guerra colonial que há que exorcizar, pois quase todas tiveram alguém em África. Nós também estivemos lá.
No cômputo final, agradecemos a Deus por termos regressado.


In "Também eu estive lá..." - Lino Rei

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